Com os juros mais baixos da história do País e com a reforma do sistema previdenciário na pauta do dia, os brasileiros estão procurando mais produtos de previdência privada, que apresentem rendimentos mais elevados. A consequência é uma maior concorrência, o que acabou elevando a portabilidade, isto é, a migração de recursos entre os fundos. Em 2018, as operações de portabilidade movimentaram R$ 21,9 bilhões, o maior volume histórico, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Desde 2016, quando a taxa básica de juros (Selic) começou a cair até os atuais 6,5% ao ano, o movimento de portabilidade entre fundos cresceu 105%. “Com juros baixos e novas regras para alocação de recursos, criadas em 2017, mais gestores independentes passaram a oferecer fundos destinados à previdência privada”, diz a planejadora financeira Annalisa Dal Zotto, sócia da Par Mais.
Especialistas concordam que, além do juro baixo e da preocupação com a reforma da Previdência, a mudança de regras para investir nesses produtos foi importante para elevar a concorrência. Como são produtos de longo prazo, em que o participante deve investir por até 30 anos, as novas normas definidas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) permitiram que os gestores pudessem correr mais risco para obter melhores retornos.
Para atrair novos clientes ou “roubar” os da concorrência, empresas reduziram suas taxas de administração, melhorando o ganho do investidor. Além disso, zeraram a cobrança das chamadas taxas de carregamento, que chegavam até a 5% e eram cobradas para “cobrir custos de corretagem e administrativos na aplicação dos recursos”.
Essas mudanças também aconteceram nos grandes bancos, que, além da concorrência das seguradoras, passaram a competir entre eles. Nas grandes instituições, as taxas de administração variavam de 3% a 5% para fundos de renda fixa, por exemplo, em que o trabalho é comprar títulos do governo. “Hoje, as taxas começam em 0,3% e chegam a 2% em produtos como fundos de ações em que há uma estratégia do gestor para escolher os melhores papéis”, afirma Annalisa, lembrando que as instituições também baixaram o valor inicial do investimento.
Desde que zerou as taxas de carregamento para todos os clientes de previdência (novos e antigos), em setembro do ano passado, a portabilidade cresceu muito no Santander. O tíquete mínimo do banco, que atua com a seguradora Zurich, é de R$ 30,00. Mas a recomendação é que o cliente guarde pelo menos 10% de sua renda, diz Gilberto Abreu, diretor de investimento do banco. “Hoje, cerca de 90% dessa indústria ainda estão concentrados em produtos de renda fixa. As novas regras estão permitindo a chegada de fundos com outras classes de ativos, que oferecem retornos melhores”, explica Henrique Pocai, especialista em previdência privada da XP Investimentos.
Na portabilidade, o cliente não paga Imposto de Renda na migração de recursos nem perde a contagem do tempo em que o dinheiro ficou investido. “Mas a portabilidade só é possível durante o tempo de contribuição. Quando o beneficiado começa a receber o benefício, a mudança não é mais possível”, ressalta Gabriel Escabin, especialista em previdência do BTG.
O BTG também passou a oferecer produtos de previdência privada, que hoje podem ser acessados pela sua plataforma digital, com taxas de administração a partir de 0,3% e aportes iniciais de R$ 1 mil. Uma das facilidades oferecidas pelo BTG digital é a migração entre fundos de diferentes categorias.
Fonte: JC Online