Discutimos aqui como a tecnologia vem sendo utilizada de forma crescente para ajudar as pessoas a encontrarem seus respectivos pares perfeitos. A empresa de mídia e tecnologia XO Group, cujo foco são casais em início de vida em comum, realizou uma pesquisa em 2017 com quatorze mil mulheres que estavam noivas ou tinham acabado de se casar. Nada menos que 19% delas relatou ter conhecido seus parceiros através da Internet – e o percentual pode ser ainda maior, pois ainda há pessoas que preferem não revelar que usaram a rede para buscar um relacionamento sério. Esta foi a forma mais citada de encontros na pesquisa; as outras foram “através de amigos” (17%), “durante a Universidade” (15%) e “no trabalho” (12%).
O desejo de compartilhar a vida com alguém vem de nossa estrutura social e biológica: frequentemente, famílias são constituídas para criação de filhos, preservando assim seu nome e seu DNA. Esse mecanismo vem perpetuando a raça humana por milênios, mas assim como tudo que a tecnologia toca, mudanças estão à vista. O perfil etário da população mundial vem sendo alterado rapidamente, e o fenômeno batizado de “Silver Tsunami” (ou “tsunami prateado”, em referência aos cabelos grisalhos da população com mais de 65 anos) já está no horizonte. Já falamos aqui sobre a significativa melhoria da expectativa de vida em praticamente todos os países do mundo: de acordo com o National Institute of Health (Instituto Nacional de Saúde dos EUA), em 2050 cerca de 16% da população mundial (algo como 1,5 bilhão de pessoas) terá 65 anos ou mais.
Em um artigo publicado na revista Science em 2002, os autores Jim Oeppen (da Universidade de Cambridge, na Inglaterra) e James Vaupel (do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, na Alemanha) relataram que estamos aumentando nossa expectativa de vida consistentemente há mais de cento e cinquenta anos, em um ritmo de aproximadamente três meses por ano. Isso quer dizer que os bebês nascidos em determinado ano possuem uma expectativa de vida dois anos e meio mais longa que os bebês nascidos apenas dez anos antes. Ainda mais impressionante é o aumento de um número pouco discutido, conhecido como “duração da vida” (ou “life span”). Até 1960, a estimativa dos biólogos era que a duração da vida de um ser humano – ou seja, a idade máxima que poderia ser alcançada – era de 89 anos. Em cerca de cinquenta anos, este número foi alterado para 97 anos, e com o aumento do número de centenários na população mundial, deve ser alterado novamente em breve.
Os limites da expectativa de vida dos seres humanos seguem aumentando em função de diversos fatores, e de acordo com o economista Johannes Koettl do Instituto Brookings (uma organização sem fins lucrativos de políticas públicas sediada na capital dos Estados Unidos), os mais importantes são a medicina regenerativa e o transplante de órgãos. Se por um lado antibióticos, vacinas e o progresso obtido com medidas de higiene melhoram a qualidade de vida da população, por outro a substituição ou regeneração de órgãos vitais impactam dramaticamente a duração da vida dos indivíduos beneficiados.
Economicamente, uma população mais velha possui efeitos em diversos segmentos, sendo um dos mais importantes a rede social de proteção: menos pessoas trabalhando para sustentar um contingente maior de aposentados que frequentemente vive duas ou três décadas após parar de trabalhar. Em 2015, a nação com a maior expectativa de vida no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, era o Japão, com quase 84 anos. Lá, crianças com menos de 14 anos são apenas 13% da população, contra 26% de adultos com mais de 65 anos.
A questão do envelhecimento da população japonesa possui aspectos reveladores. Estima-se que a produção de fraldas para adultos – um mercado com faturamento anual de quase U$ 1,5 bilhões no país – deve ultrapassar as fraldas infantis no máximo em 2020, e empresas como a Nippon Paper e a Daio estão se preparando para um aumento significativo na demanda por “produtos para incontinência”. Outra estatística surpreendente foi publicada pelo jornal britânico The Telegraph: em 2012, mais idosos foram apreendidos em Tóquio por realizar roubos em lojas (shoplifting) que adolescentes desde que a polícia começou a monitorar esse tipo de crime, em 1989. Pior que isso, 70% dos roubos envolveram alimentos, ressaltando as difíceis questões que pensionistas enfrentam até mesmo em países desenvolvidos.
De fato, nenhum país do mundo está envelhecendo tão rapidamente quanto o Japão, que serve como um aviso e um alerta para um fenômeno global: as pessoas estão tendo menos filhos e vivendo mais tempo. A relação da tecnologia com essa dinâmica e o impacto nos negócios pela contínua procura por uma vida mais longa são nosso tema para próxima coluna.
Fonte: Agência Estado