As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são algumas das principais causas de mortes no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, 73% dos óbitos são decorrentes desse tipo de mal, como hipertensão e diabetes. A atenção primária e o cuidado preventivo podem contribuir para mudar esse cenário. De acordo com Fátima Sousa, professora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), orientar um processo de alimentação saudável, monitorar diabetes e hipertensão e investir em prevenção podem evitar em até 85% eventuais problemas.
As recomendações são seguidas com rigor por João Batista. Com 88 anos, ele chegou à idade com a saúde perfeita, e sem precisar tomar nenhum remédio. Ele correu a sua primeira meia-maratona (21km) aos 80 anos. Agora, participará de uma prova de triatlo — modalidade que reúne natação, ciclismo e corrida — com o filho João Batista Júnior, 55, e o neto Ivan Lugon, 25. O cuidado com o físico dá resultados. Tanto que ele nem lembra quando foi a última vez que foi ao médico por conta de algum problema de saúde. João é um exemplo de que a prevenção é eficaz e pode evitar várias debilidades.
Segundo ele, para conseguir praticar esportes de alto rendimento aos 88 anos, ele sempre cuidou muito da saúde: “Eu controlo bastante minha alimentação, não bebo, não fumo. Diminuí carboidratos, como a quantidade de que eu preciso de proteínas, realizo checapes. Sempre pratiquei esportes, como futebol, corrida, natação. Depois de aposentado, aí eu quis começar a treinar de verdade”, compartilha.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), atenta aos resultados positivos da saúde básica, lançou o Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde, que visa incentivar as operadoras de planos de saúde a desenvolverem redes de atenção ou linhas de cuidado em atenção primária. A primeira iniciativa do programa é o Projeto de Atenção Primária à Saúde (APS), que prevê a concessão de uma certificação às operadoras que cumprirem requisitos preestabelecidos nessa estratégia. O objetivo é estimular a qualificação, o fortalecimento e a reorganização da atenção básica, pelos quais os pacientes devem ingressar preferencialmente no sistema de saúde.
Segundo Rodrigo Aguiar, diretor de desenvolvimento setorial da ANS, a Atenção Primária à Saúde deve ser, prioritariamente, a porta de entrada do sistema: “Deve ser o primeiro contato do paciente, centrado no acolhimento de suas demandas; longitudinal, ou seja, ao longo da vida do paciente; e integral. Além disso, deve ser baseado na coordenação do cuidado e centrado no paciente e na família. Desse modo, a atenção primária possibilita melhores fluxo e itinerário do paciente em todos os níveis de atenção (primário, secundário e terciário), fundamentados nas necessidades de saúde apresentadas, nos seus mais diversos graus de complexidade”.
Na família de atletas de João Batista, o amor pelo esporte e pela qualidade de vida sempre estiveram presentes. Foi o avô quem deu a primeira bicicleta a Ivan Lugon, e o pai sempre o apoiou nas práticas esportivas, inclusive o levando a competições em outras cidades. “Eu espero chegar à idade do meu avô com a mesma qualidade de vida que ele desfruta hoje. Ele é uma meta para mim”, relata. Segundo o João Batista mais velho, ele tem a saúde de hoje graças ao estilo de vida que sempre manteve: “Eu sempre segui um estilo de vida saudável, e continuo dizendo que a chave para eu ter a saúde que tenho hoje é só uma: disciplina”.
Regras por cumprir
No programa da ANS, as operadoras deverão assegurar uma cobertura mínima de acordo com o número total de beneficiários da sua carteira, considerando uma equipe de atenção primária à saúde (APS) para, no máximo, 2,5 mil beneficiários. Para as operadoras com porte reduzido (até 3.572 beneficiários), a regra de uma equipe de APS para cada 2,5 mil beneficiários fica flexibilizada. Nesses casos, a operadora deverá contar com pelo menos uma equipe de APS, que deverá cobrir no mínimo 70% da sua população de beneficiários. Para operadoras com mais de 16 mil consumidores, o número de equipes deverá ser maior e proporcional à quantidade de clientes.
“A saúde suplementar é cara, todo aparato medicamentoso e estrutural tem um custo alto. Então, a saúde suplementar está enxergando uma possibilidade de aumentar os lucros. É melhor detectar um problema cardíaco no começo do que pagar por uma cirurgia cardíaca. Então, as operadoras de planos de saúde estão se atentando para o fato de que a atenção primária é um bom investimento”, afirma a professora Fátima Sousa, da UnB.
A participação no programa é voluntária e as operadoras podem integrar a iniciativa de duas formas: por meio da certificação ou com a implantação de projetos-piloto que se enquadrem nessa finalidade. A certificação será realizada por meio de entidades acreditadoras em saúde reconhecidas pela ANS, que farão a avaliação in loco.