O governador Romeu Zema (Novo) está promovendo um “sucateamento planejado” para criar insatisfação entre os consumidores e proporcionar um ambiente favorável à privatização da Cemig. Só em 2019, Zema fechou 50 bases operacionais em Minas Gerais. A consequência prática desse fechamento é que os reparos nas linhas para reestabelecer a energia ficará mais demorado, já que as equipes terão que se deslocar até 300 quilômetros.
A mesma estratégia foi utilizada em Goiás para ganhar apoio popular para a privatização da estatal CELG (Companhia Energética de Goiás) pela Enel, segundo informaram deputados estaduais goianos, membros da CPI da Enel, que participaram de audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quinta-feira, 3 de outubro de 2019.
Tarifa aumentou após privatização em Goiás
Além do “sucateamento planejado” antes da privatização, os deputados goianos informaram que o serviço prestado piorou e as tarifas aumentaram após a venda da CELG. A Enel, hoje, ocupa a última colocação das empresas de energia na classificação nacional da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Segundo eles, as pessoas que pediram a privatização por causa dos serviços ruins após a estratégia de “sucateamento planejado”, hoje sentem saudades da estatal CELG.
O coordenador-geral do Sindieletro, Jefferson Silva, frisou que a mesma estratégia de sucateamento está sendo praticada por Romeu Zema em Minas Gerais e que as pessoas vão sentir, em breve, a piora dos serviços.
ABCF presente na audiência pública
O diretor da ABCF Ney Alencar participou da audiência pública e sugeriu aos deputados mineiros que busquem estabelecer um intercâmbio de informações com os deputados de Goiás e do Rio de Janeiro para entender o que aconteceu nos estados após as privatizações por Enel e Light. “A Light foi comprada pela estatal francesa EDF que rapinou durante vários anos, não investiu, demitiu, terceirizou tudo e deixou de investir em manutenção”, disse Ney Alencar.
Ele lembrou que, há muito tempo, diversas redes subterrâneas do Rio de Janeiro explodiam devido à falta de manutenção da Light. “Depois que os franceses rapinaram à vontade, disseram: ‘não queremos mais’. Foram embora e deixaram o abacaxi”, completou. A Cemig, então, comprou a Light e teve que investir em manutenção para consertar “tudo o que os franceses deixaram de ruim”, lembrou Ney. “Hoje vocês não ouvem mais falar em acidentes na rede subterrânea do Rio”.
Não há justificativa para vender a Cemig
O deputado estadual mineiro Cristiano Silveira disse que a Cemig é eficiente e não vê nenhuma justificativa plausível do governo Zema para privatizar a empresa. “Eu não consigo vislumbrar nada que justifique”, afirmou. Ele ressaltou o fato de que até deputados de direita e de centro estão contra a privatização da Cemig. Silveira também criticou o sucateamento planejado da Cemig para deixar o consumidor irritado e favorável à venda.
A deputada Beatriz Cerqueira, contrária à privatização da Cemig e do fechamento das bases operacionais, disse que tem dificuldade em entender por que copiar iniciativas que deram errado em outros lugares. “Nós não temos o direito de fazer do povo, cobaia”, disse. E questionou: “Como eu vou vender uma empresa que dá lucro? Como explicar isso para as pessoas”.