A perda de três posições no ranking internacional de competitividade – o que o levou a fazer parte da metade menos competitiva de uma lista de 140 países – bastaria para mostrar as dificuldades que o Brasil enfrenta para conquistar espaços no mercado internacional de bens e serviços e para atrair investimentos produtivos. Mas, mais do que reiterar como é baixa nossa capacidade de competir em escala mundial, o Relatório Global de Competitividade (The Global Competitiveness Report 2018) divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) deixa claro como o Brasil – e boa parte dos demais países analisados no estudo – está despreparado para se inserir num mundo “que está sendo crescentemente transformado pelas novas tecnologias digitais”. É uma realidade que vem criando um conjunto ainda não perfeitamente delineado de desafios para os governos, para as empresas e para as pessoas.
O fato de ter caído da 69.ª para a 72.ª posição no ranking mundial de competitividade entre 2017 e 2018 mostra como velhos problemas apontados em sucessivos relatórios do WEF continuam a emperrar a modernização e o crescimento da economia brasileira e a desafiar os governos. O Brasil é o último classificado de 140 países estudados, quanto à carga de regulações do setor público. É uma demonstração inquestionável do peso excessivo do Estado brasileiro sobre a atividade econômica.
Quanto maior a tentativa de controle da atividade produtiva por meio de regulações e imposição de normas pelas autoridades maior é o espaço para corrupção e arbitrariedades por parte de agentes públicos, o que dificulta e atrasa decisões empresariais, aumenta os custos de transação, torna menos claras as prestações de contas, tanto na esfera privada como no setor público, e prejudica o desenvolvimento.
Por causa do excesso de controle estatal e de burocracia, o Brasil aparece na 97.ª posição no item instituições, um dos 12 pilares que balizam o estudo de competitividade do WEF (os demais são infraestrutura; adoção de inovação, ciência e tecnologia; estabilidade macroeconômica; saúde; habilidades; mercado de produtos; mercado de trabalho; sistema financeiro; tamanho do mercado doméstico; dinamismo empresarial; e capacidade de inovação).
O Brasil está mal classificado em diversos pilares, como qualificação da população para se adaptar às novas exigências da economia (125.º lugar), estabilidade macroeconômica (122.º), mercado de trabalho (114.º), crime organizado (124.º), subsídios distorcivos e incentivos fiscais (132.º) e barreiras comerciais (136.º). São itens que mostram como são diversificadas as causas do atraso do País em relação aos demais países.
Numa escala de 0 a 100 em competitividade, o Brasil obteve a nota 59,5, muito menor do que a alcançada pelos países que lideram o ranking (Estados Unidos, com 85,6; Cingapura, 83,5; Alemanha, 82,8; Suíça, 82,6; e Japão, 82,5).
Além de superar grandes obstáculos há muito conhecidos, o Brasil agora terá também de buscar um lugar entre os países capazes de entender e, sobretudo, acompanhar as transformações por que passa o mundo da produção e dos negócios. O mundo, prevê o fundador e principal dirigente do WEF, Klaus Schwab, será dividido entre os países que participarão dessas transformações e os que ficarão para trás. “Apenas os países que reconhecerem a importância da quarta revolução industrial serão capazes de expandir as oportunidades para seus povos.”
A quarta revolução industrial, já em curso, é baseada na automação dos processos, uso intensivo de sistemas inteligentes e de robotização, integração pela rede mundial de computadores, entre outras características. O resultado esperado é um aumento extraordinário da produtividade e agregação de produtos e riqueza à economia mundial numa velocidade ainda desconhecida.
Dispor de população adequadamente qualificada é condição indispensável para um país participar dessa nova onda. É um dos muitos desafios que o Brasil terá de encarar para não perder mais essa corrida.
Fonte: Agência Estado