A preço de banana: Zema quer entregar Cemig e Copasa por valor muito menor que o anunciado pelo próprio governo

  • Em 2019, Zema projetava vender o controle das empresas por R$ 50 bilhões; no novo modelo, de venda de parte das ações, Minas pode perder o controle das empresas por preço ínfimo
  • O secretário de Estado do governo Zema, Gustavo Valadares, disse que Cemig e Copasa poderão ver vendidas por um valor menor que o do total das ações em poder do estado. A ideia do governo Zema é vender parte das ações e entregar o controle da empresa ao setor privado. , transformando-a numa corporação.
  • Zema não governa para Minas Gerais, mas para seus amigos, os grandes empresários.

O governo Romeu Zema (Partido Novo) pretende vender Cemig e Copasa por um valor menor que o total pelo qual são avaliadas na Bolsa de Valores. A estratégia do governo é vender parte das ações a que tem direito para facilitar a entrega do controle da empresa para a iniciativa privada, transformando ambas em corporações.

A informação foi passada por Gustavo Valadares, secretário de Estado do governo Zema, nesta terça-feira, durante Audiência Pública que discutiu a PEC das Privatizações na Assembleia Legislativa.

O que é uma corporação

Uma corporação funciona da seguinte maneira: as empresas têm controle pulverizado e não há a figura do acionista controlador. O administrador é escolhido pelo Conselho de Administração que não necessariamente é oriundo do grupo (empresa, empresas ou Estado) que detém a maioria das ações.

Desta maneira, entende-se que as ações de Copasa e Cemig serão pulverizadas e as empresas poderão ser administradas por alguém que controladas por quem os acionistas, mesmo não majoritários, escolherem.

Privatizadas Eletrobras e Copel são “corporations”

Esse novo “modelo” de privatização, que consegue ser pior que o modelo anterior, foi aplicado na Eletrobras e na Copel, elétrica do Paraná. Em 2023, houve um apagão nacional a partir das linhas da Eletrobras. Muitos atribuem o apagão à demissão em massa na empresa. No final de agosto, a Copel abriu um PDV (Programa de Demissão Voluntária) duas semanas após ser privatizada.

Vale tudo: as mentiras de Zema

Em 2019, em entrevista ao jornal Valor Econômico, Zema disse que Minas Gerais precisava de dinheiro para pagar dívidas e previa que, juntas, Cemig e Copasa seriam vendidas por R$ 50 bilhões. “Essas empresas, hoje, estão avaliadas em 20 e poucos bilhões de reais. Mas, do nosso ponto de vista, quando você está vendendo o controle de uma empresa, ela tem um upgrade do valor”, disse. E completou: “Do nosso ponto de vista, essas empresas teriam condição de ter um valor que vai variar de R$ 35 bilhões a R$ 50 bilhões”.

Quando foi proposta a federalização, em que o governo federal poderia comprar a Cemig e incorporá-la à União, o discurso mudou. Agora, Zema diz que precisa de um sócio pra dinamizar a empresa e não do dinheiro para pagar dívidas. Na verdade, são grandes grupos financeiros que têm interesse em comprar as empresas. Grandes grupos que só querem ganhar dinheiro ou usá-las em seus próprios negócios, como grandes consumidores de energia e água, por exemplo.

O governo Zema tenta de todo modo entregar Cemig e Copasa a preço de banana para o setor privado. Durante quatro anos, sucateou os serviços de ambas para gerar um sentimento pró-privatização na população. Depois, enviou um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) em que acaba com o referendo popular para a decisão de se privatizar Copasa, Cemig e Codemig, além de reduzir o quórum na Assembleia Legislativa para a aprovação da proposta.

R$ 2 milhões por dia

O ex-diretor da Cemig Aloísio Vasconcelos participou da Audiência Pública e fez um discurso forte em que apresentou exemplos de piora de serviço e aumento de tarifas em empresas de energia privatizadas de outros estados do Brasil. Lembrou, também, que Cemig e Copasa repassam R$ 2 milhões por dia para o caixa do governo estadual.

O sociólogo Jessé Souza também esteve presente por videoconferência e falou da importância da manutenção das empresas públicos para garantir o acesso aos serviços essenciais pela população.

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