- “Coletivo”, pero no mucho: Proposta de trocar vitalício por cotas só é vantajosa para quem morrer antes do previsto pela Forluz, souber como gerir individualmente investimentos no mercado financeiro e se a rentabilidade ficar acima do mercado, algo que não aconteceu na última década. Além disso, se o participante sacar todo o dinheiro da reserva e sair da Forluz, ficará sem o patrocínio da Cemig no plano de saúde
O “Coletivo” divulgou uma matéria sobre a onda do mercado previdenciário: reversão do vitalício para benefício financeiro nos fundos de pensão. A matéria é feita com dois profissionais reconhecidamente competentes no segmento. Um apoio indireto à iniciativa da Cemig, que é uma quebra de contrato com os participantes que assinaram o Acordo de 1997.
O primeiro entrevistado é diretor da TOWERS, vejam a coincidência. Empresa recentemente contratada pela Cemig para propor a alteração do plano A. Trata-se de uma multinacional majoritariamente prestadora de serviços para patrocinadores privados e multinacionais.
A segunda, dirigente da Vivest (ex-Funcesp), entidade anteriormente ligada a estatal Cesp, hoje privatizada. Foi atuária do Plano A quando a Mercer era a responsável na Forluz. MERCER que, lembremos, foi recentemente contratada pela Cemig para promover a alteração do plano A.
Propaganda é atrativa, mas engana
A ideia apresentada na matéria parece boa ao participante, mas é preciso analisar. Isto porque o participante deixa de ser coletivo e passa a ser individual. Coletivo, pero no mucho. Nesta proposta, os benefícios ofertados aos participantes seriam “atrativos”:
- Autonomia do aposentado sobre os seus recursos;
- O aposentado passa a escolher o percentual que deseja receber anualmente;
- O saldo remanescente vai para herdeiros depois que ocorrer o seu falecimento;
- Na migração, o participante pode sacar um valor à vista.
Ao final da matéria, o diretor da Towers menciona um ponto importante. A alternativa também é positiva no que diz respeito aos “impactos contábeis nas patrocinadoras”. Em português claro: a mudança reduz o custo pós-emprego através da opção voluntária dos aposentados em abrirem mão do seu direito. Isso melhora os resultados financeiros das patrocinadoras, porque o nível de endividamento cairá. Através disso, os investidores serão atraídos. Com isso, há melhora nos resultados da companhia. Por fim, aumenta-se a distribuição de dividendos aos acionistas.
Vamos aplicar agora os benefícios apresentados na matéria ao nosso mundo? Cemig, Plano A…
O aposentado passa a ter autonomia sobre os seus recursos
Ao contrário dos demais planos de mercado, eventuais déficits no plano A são de responsabilidade exclusiva da patrocinadora, porque o participante abriu mão de um direito maior em 1997. Essa foi a contrapartida da empresa;
O tal recurso mencionado que o participante terá individualmente somente existirá ao longo do tempo em duas ocasiões:
a) Se você viver menos do que o previsto pela Forluz. Ou seja, torça para morrer antes. Sem terrorismo: se você viver mais, seu saldo esgotará e com isso ficará sem benefício, provavelmente ao final da vida;
b) Se a Forluz obtiver um rendimento acima do que ela mesmo está prevendo e que, na última década, não conseguiu atingir. Vale lembrar que o cenário econômico atual é bem diferente (para pior) em relação à perspectiva de rentabilidade futura.
O aposentado passa a escolher o percentual que deseja receber anualmente
Imagine um aposentado do Plano A com 85 anos que jamais conferiu um saldo de conta no “APP Forluz”. Será que conseguirá controlar a renda individual?
Os aposentados do plano A da Forluz, ex-funcionários da Cemig, possuem capacidade e foram educados financeiramente a gerir/acompanhar recursos?
Qual o nível de endividamento destas pessoas?
O saldo remanescente, quando ocorrer o seu falecimento, vai para herdeiros
Exato. Para isso acontecer, basta morrer antes do previsto ou torcer para a Forluz obtenha ganhos jamais vistos. Sobre a rentabilidade, vale lembrar que a Cemig já fez sua aposta: isso não irá ocorrer. Para se livrar desta incerteza, transferirá o risco para você;
Na migração, o participante pode sacar um valor à vista
Exato. Um aposentado com idade elevada pode sacar um valor à vista. Com isso ele reduzirá o benefício para o resto da vida, encontrará dificuldades para pagar seu plano de saúde e comprar remédios quando mais precisar, etc… e quando a renda diminuir, adivinhe? Ele se endividará pegando empréstimo.
Tenha em mente quando lhe oferecerem a troca de renda (recapitalização) no Plano A:
Primeiro: escolha se quer abrir mão ou não, novamente, de um direito que adquiriu. Vale lembrar que a garantia de benefício vitalício que você possui, sem risco de assumir possíveis prejuízos, só existe hoje porque, em troca, você abriu mão de um direito em 1997.
Segundo: escolhendo “recapitalizar”, você jogará no lixo, junto com a Cemig, a promessa/contrato que firmaram em 1997 em troca de um direito que você já abriu mão.
Terceiro: ao seguir essa linha de trocar sua renda, tenha em mente que a Cemig, até o momento, recebeu muito mais dinheiro neste plano do que colocou. R$ 1 bilhão em valores atualizados, aproximadamente (amortizou/recebeu R$ 1,8 bi entre 2006 e 2008, equacionou R$ 700 milhões entre 2015 e 2018, restando ainda R$ 800 milhões de déficit). Ocorre que, como existe o risco iminente deste valor se inverter, ou seja, dela ter que aportar mais dinheiro do que recebeu, pretende transferir esse risco exclusivamente a você.
Quarto: ao seguir essa linha de trocar sua renda, assuma integralmente o risco do seu dinheiro acabar quando mais precisar (basta viver mais ou a economia oscilar).
Quinto: ao seguir essa linha de trocar sua renda (certo pelo duvidoso), entregue à patrocinadora a liberdade desejada daquela obrigação que possuía, reduzindo seu nível de endividamento e gerando melhores resultados para os acionistas.
Tenha em mente seus riscos de ficar sem benefício:
Se você tiver saúde, uma sobrevida acima da prevista ou se a Forluz mantiver ou reduzir seu nível de rendimento atual, você perderá. Seu saldo de conta se esgotará ao final da sua vida.
De outro lado, se você morrer antes do previsto ou se a Forluz obtiver uma excelente rentabilidade acima do mercado (maior do que ela mesma acredita/prevê e que não conseguiu na última década), você ganha. Sobrará dinheiro para seus herdeiros.
A Cemig já tem uma definição. Ao oferecer esta opção, ela aposta que o déficit aumentará e que, para manter o benefício que os aposentados recebem, precisará colocar dinheiro. A decisão é entregar este risco a você, caro aposentado.
Lembrete: os aposentados e pensionistas do Plano A pouco acompanham a gestão da Forluz. Em sua grande maioria, não possuem Plano B, jamais tiveram saldo de conta individual e gestão sobre recursos previdenciários.
A ABCF precisa de sócios para manter defesa dos participantes
Para manter-se na defesa dos participantes e ter fôlego financeiro para patrocinar ações em defesa dos participantes, é de vital importância que você, participante da Forluz e da Cemig Saúde, torne-se sócio da ABCF, uma associação pequena e financeiramente frágil, mas gigante na defesa dos participantes. Não se fie no que estamos dizendo, basta consultar as matérias de nosso site e verificar o quanto estamos fazendo em prol dos participantes. Não paramos de agir nem durante a pandemia. Apoie quem te defende, seja sócio da ABCF.
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